No mês de maio de 2012, tentei pela primeira vez, entrar em contato com uma Desenhista Profissional. Imaginei que uma estória, com tantos personagens, seria interessante incluir no início da cada capítulo, a caricatura, dos protagonistas e coadjuvantes.
Mas infelizmente, a mineira Cristiana considerou que Gênio de Rua - Um Filme de Letras, continha sotaque e não gostou.
Se uma estória se sucede em um determinada região, nada mais natural do que o autor procurar transcrever o pitoresco daquela região. Digamos que noventa por cento do Livro Gênio de Rua - Um Filme de Letras transcorreu no estado do Rio Grande do Sul, mais precisamente na cidade de Porto legre e no fictício Balneário Kaburé.
O primeiro E-mail que enviei foi no mês de maio. O parágrafo inicial foi uma composição que fiz ao descobrir no Blog da Cristiana, os filmes de sua preferência.
Balneário Gaivota, 27 de maio
de 2012.
Cristiana Fonseca:
Envio esta mensagem Em Busca de um Sonho! Acessei o teu Blog e além de um
imenso talento, percebi que
tens uma Mente Brilhante.
Estou escrevendo um livro. Não é similar a Lendas
da Paixão e distancia-se do primeiro,
quanto mais do Ultimo
dos Moicanos.
O Protagonista da estória diz
a todo o momento: Estou em busca de Minha Amada Imortal,
Em Algum Lugar no Passado ou Além
da Eternidade.
Não há uma personagem que se assemelhe a Poderosa Afrodite e ninguém, por enquanto, é capaz de acompanhar O
Pianista. Muito me comove a saga insana de Os Miseráveis, mas se
encontrar o Valjean e a menina, nas linhas e entrelinhas, escondo-os no
Balneário Kaburé, em um
cantinho qualquer do epílogo de @ à Quiara.
Bem, Cristiana, após um breve
exercício literário, permita-me me apresentar:
Meu nome é Elton da Fontoura. Nasci em Porto Alegre,
há 54 anos atrás. Atualmente resido no Balneário Gaivota, Santa Catarina.
Estou escrevendo um livro: @ à Quiara.
Moras em Uberaba! Há duas cenas na história que
envolverão cidades de Santa Vitória, no triângulo mineiro, com passagem pelo
PRITU de Ituiutaba, e a outra se refere à Caixa D’Água de Metal, em Pouso
Alegre. Inclusive, recebi dias atrás, fotos e características da Caixa de uma amiga que mora lá. Vários contatos e pesquisas já mantive e mantenho para acrescentar
à estória um ambiente real.
O Interessante é que entre os meus colaboradores, só
há um que reside na Praia do Cassino aqui no RS, e sete que residem em Pouso
Alegre, MG. Quando encontrei teus lindos desenhos nas imagens do Google e
acessei teu Blog, percebo que é de Uberaba. Nada acontece por acaso.
Já escrevi 104 páginas em XVIII Capítulos e presumo
que há muita estrada s ser percorrida.
Deves estar te perguntando o que tens a ver com isso,
logicamente.
Ao visitar teu Blog, imaginei o quanto seria
interessante acrescentar no Prefácio, meio ou Epílogo do livro, desenhos a
lápis dos personagens. São vinte e sei atualmente.
Pensei em inserir antes de começar a estória, para que
o leitor pudesse imaginar a cena com a fisionomia do personagem.
Estou te enviando em anexo, a capa que fiz e que está
como papel de parede no meu computador, um meio de motivação. Nesta capa
colocaremos: Ilustrações de Cristiana Fonseca.
Enviaria as características de cada um e a partir daí,
tu comporias desenhos a lápis de mais ou menos cinco centímetros. Fica ao teu
critério. Esta é a minha ideia inicial.
Como escrevi na primeira linha, estou em busca de um
sonho.
Aposentei-me por invalidez aos 49 anos, como Professor
de Informática. Tenho um aneurisma longitudinal da veia aorta. A Dilma me paga
muito pouco.
Sou Escritor de primeiro livro. Inclusive comecei,
considerando um hobby. Mas com o andar da carroça, tenho a convicção que será
uma estória interessante e certamente será publicada. Antes de ser um renomado
Escritor, o Escritor renomado beira o anonimato!
Pelo que pude constar, desenhas muito bem Cristiana.
Fiquei um bom tempo admirando teus desenhos.
Pergunto: Gostarias de participar deste projeto, a
principio, sem fins lucrativos?
Se quiseres, posso te enviar alguns capítulos para que
avalies.
Espero que a tua resposta seja afirmativa. Se por
alguma razão, não for, me notifique mesmo assim.
Desde já, muito obrigado e um grande abraço.
Eis a resposta:
Boa noite Elton,
Elton não sou escritora, apenas gosto de ler, mas sem
compromisso literário, li a primeira parte que vc me enviou, somente o primeiro
anexo, não li este ultimo capitulo que me enviou, e não terei tempo para lê-lo
por agora. Quanto ao que li, a historia em si é interessante, embora a
narrativa seja permeada por uma linguagem regionalista, o que não representa
necessariamente uma aspecto negativo, uma vez que a tua ficção representa uma
exposição de elementos de uma cultura local.
Quanto a descrição física dos personagens, ao longo do texto percebi relatos
sucintos , portanto no meu entender faltam elementos descritivos mais profundos
acerca dos personagens para um trabalho artístico. Principalmente para
trabalhar a expressão de cada personagens envolvidos na trama.
Abraços,
Cris
No início de Junho, respondi:
Balneário Gaivota, 09 de junho de 2012.
Cristiana Fonseca:
Arrependi-me de ter enviado o roteiro. Além de mal escrito,
apesar de verídico, foi uma ação infrutífera aos meus princípios.
Escrevi às pressas e não havia sentido colocar um toque de
escritor, por se tratar apenas um roteiro.
Apesar de teres achado “interessante”
a história e comentado “seja permeada por
uma linguagem regionalista”, inseriste no meio destas frases a palavra “embora”. Esta palavra, embora haja controvérsia, no
meu ponto de vista é parcial ou totalmente pejorativa.
Um dos livros que relacionas como preferido é “Menino de Engenho”.
José Lins do Rego ao longo de sua obra, expressa um regionalismo nordestino
peculiar ao contador de histórias. “Vá
brincar com os moleques no copiá”! “Você
precisa ficar matuto”. “Cuscuz, macaxeira,
angu”. Macaxeira eu sei que é o Aipim, que denominamos aqui, mas o que é
copiá, matuto, cuscuz, angu? Ele tá certo em descrever os costumes de lá. Eu
ainda explico no rodapé da página o que estou escrevendo de regionalismo. Quem
conta uma história, conta a história de um lugar e da gente daquele lugar. Há
pouco eu escrevi o verbo “inseriste” na segunda pessoa, porque uso o “tu”.
Jamais escreverei “você inseriu”, porque eu não uso “você”, eu não falo você,
eu não sou das Minas Gerais que diz “Uai”! Eu digo Tchê! Tenho certa restrição em
ouvir paulistas respondendo uma pergunta: “Então...” Sempre começam a resposta
com “Então”. Já percebi que alguns Catarinas também.
E por falar em livros preferidos, fui conhecer tua biografia
como leitora. Tu relacionas no Blog treze livros. Nove deles são de autor
estrangeiro. Nada contra, mas ao leres autores estrangeiros, será necessário
leres as obras no idioma original, caso contrário, estarás lendo o tradutor.
Vinte a trinta por cento do texto original é literalmente adulterado, isso
quando for um bom tradutor.
Também observastes que fui sucinto quanto à descrição dos
personagens. Lendo “O Retrato de Dorian Gray”, não sei até o momento como é a
descrição dos três rapazes que personificam as páginas da obra. Reparei que um
deles está conversando com outro e o autor ocupa mais de uma página para um só
personagem, transformando a conversa em um monólogo, excessivamente minucioso,
profundo, analítico. Uma história é um entretenimento. Se fosse um livro
técnico de Filosofia, seria compreensível.
Nesta pesquisa descobri o teu gosto literário. Agora entendo
o “interessante”!
É lógico que não gostastes porque o que aprecias é o
interior humano, metódico, imóvel pelo pensamento, e não o interior entreverado
ao exterior. Eu gosto de livros que tenham movimento, surpresas, mistério,
diálogos, ora trágicos, ora cômicos, espirituais, psicológicos, filosóficos,
triviais. Um livro que conte uma história como se fosse um “filme de letras”. Por
isso parei de ler o “Dorian Gray”. Por isso parei de ler “Menino de Engenho”,
por não haver uma narrativa em movimento. A descrição do pai do menino, que
matou a mãe e foi preso, sei que era alto, bonito e tinha um bigode. Nada, além
disso. Na minha humilde opinião, são textos monótonos, que se arrastam sem
aguçar o cérebro do leitor. Mas imagine se houvesse só leitores como eu. O que
seria do vermelho se todos gostassem do azul.
Por isso minha amiga, não mais seremos parceiros. Agradeço teu
interesse inicial, mas não vou mais roubar teu tempo. Sei que és muito ocupada e
que teu dia-a-dia é para o trabalho, esposa e mãe, e o pouco que sobra é para ler autores
renomados, além-fronteiras, não um postulante à Escritor como eu. Não gostastes
do meu estilo de escritor e eu não apreciei o teu estilo de leitora.
Vou continuar a minha novela.
Sempre há um chinelo velho para um pé torto.
Estás em minha lista de amigos. De vez em quanto repasso
E-mails interessantes que recebo.
Um grande abraço e felicidades para ti e tua família.